“O dilema diante do qual se encontra a humanidade apresenta-se assim:
ou a decadência na anarquia, ou a salvação através do socialismo”
(Rosa Luxemburgo)
No próximo domingo, 2 de dezembro, ocorrerá o primeiro turno das eleições internas do Partido dos Trabalhadores (PT), e seus filiados escolherão seu presidente nacional e demais cadeiras que serão compostos os diretórios estaduais. Para o atual momento, uma pergunta se faz presente: O que é o Partido dos Trabalhadores hoje? A subida do partido com a estrela de Lula ao Planalto consolidou a opção da doutrina pelo poder eleitoreiro sem um consistente projeto político. Logo apareceram os efeitos colaterais e, para variar, proveniente de odores de fétidos bueiros de Brasília! O resultado é um partido descaracterizado cujas principais lideranças foram solapadas na esteira da corrupção. Dentro do ufanismo pós-eleitoral, adiciona-se ainda ao enfraquecimento político da mobilização das agremiações de esquerdas brasileiras. Qual é a ideologia reinante nas atuais práticas do petismo: socialista ou neoliberal? Qualquer que seja a resposta, o quadro é alarmente digno um Frankenstein político.
Após a crise abominável do mensalão, inexplicavelmente ninguém foi punido dentro do partido. O PT mimetizou Pilatos: lavou as mãos encharcadas de dólares (até em cuecas!) e fechou os olhos para membros acusados de práticas nefastas. O combate à corrupção representou na sua origem um dos pilares centrais do partido com a proposta de fazer política com ética e transparência. O discurso virou pó, ou melhor dizendo, poder e dólares! O arauto José Dirceu não só não foi punido e, até hoje, sua sombra perambula com seus tentáculos dentro das esferas de decisão do partido. Nenhum Delúbio Soares foi cassado, nenhum “valerioduto” foi criticado com veemência dentro do seio partidário. Nenhuma postura crítica das políticas neoliberais praticados pelo governo federal foi questionada e tampouco os conchavos nefastos que o PT federal vem tecendo seu discurso e desenvolvendo suas práticas. Abjeta é a briga visceral por cargos públicos na caravana da alegria sindical. Basta estar encostado em alguma sigla sindical da aba petista para sugar avidamente o leite tenro do erário. Acabrunhado, o partido mingua sua credibilidade e assiste sua história se misturar com o cheiro do ralo. Que tipo de metástase está consumindo o PT e que monstro está sendo parido para o futuro tendo em vista suas práticas políticas?
Uma das questões abominável no atual modelo do PT (e que teoricamente - ainda - é o "núcleo duro" do governo federal) é a falta de visão estratégica para o país. Para quem acompanha a política partidária, os candidatos à presidente do partido estão muito mais preocupados com a visão imediatista à aderência ao lulismo e seus assentos em cargos públicos. O glúteo no erário público é a matriz do discurso político. Causa asco figuras deletérias, parasitárias, retrógradas e sempre se esquivando de "suspeitas" de corrupção (por exemplo, ver administração Marta Suplicy na cidade de São Paulo) como Jilmar Tatto que está concorrendo a presidência do PT, além da patética figura de Ricardo Berzoini, outro candidato, a releição! Para nenhuma surpresa, Tatto como candidato nacional à presidência é a certeza que a lama apodrecida está chegando a níveis alarmantes dentro do partido. As eternas brigas de martelo e foice no escuro do sectarismo infantil da "esquerda" do partido representada pelas chapas de Marcus Sokol e Valter Pomar somente ajudam a empurrar o PT cada vez mais para neoliberalismo e obscurantismo político. Possivelmente, José Eduardo Cardozo, será o nome mais consensual para fazer mais do mesmo, ou seja, "manter o que já esta para ver como é que fica". Para o quadro sucessório da presidência estadual que por muitos anos estava alojado nas mãos do bufão Paulo Frateschi, os nomes são de uma profunda pobreza política, insignificantes e descartáveis. Pobre São Paulo, pobre PT!
Dentro do quadro à sucessão do bufão-mor, o Sr. Berzoini, a história de luta do partido não merece nenhum dos nomes para a presidência nacional que estão na disputa das eleições internas. Na colcha de retalhos ideológicos dentro do PT, a “esquerda” do partido está tão diluída com suas querelas intestinais que não oferece nenhum perigo a ala direitista e conservadora. Portanto, o diálogo construtivo e voltado para as questões fundamentais do país é interditado. Não é possível pensar em políticas partidárias se não levar a exaustão o debate mais profundo e que margeia todas as matrizes do desenvolvimento: a crise do Estado brasileiro e suas repercussões sociais. Em suma, fica a pergunta que teima em sair da alcova: a esquerda brasileira está realmente preocupada com a visceral questão da crise do Estado?
A estrela desce ao abismo. Tarso Genro que presidiu interinamente o partido durante o auge da “crise mensalônica” chegou a falar de "refundação" do PT. O debate foi abortado drasticamente graças a intervenção soturna de José Dirceu e seus "companheiros" de rabo preso com os escândalos do período. Mais uma vez, o partido perdeu o bonde da história e deixou de purgar dentro dos seus quadros a podridão da corrupção e falta de visão política. Não pairam dúvidas sobre os rumos do partido no atual momento político e para colocar em prática sua sobrevivência e fazer jus sua história é preciso ter a coragem e a capacidade para se reconhecer e transformar. Muitos companheiros leais aos ideais originários do partido saíram do PT, sem deixar de acreditar na política como meio de transformação da realidade. Diante do quadro de fragilidade partidária, o PT tem dois caminhos antagônicos: fazer sua refundação e reorientação política ou se transformar mais uma mera sigla eleitoreira no teatro partidário da idílica democracia à brasileira.
A crise dos partidos de esquerdas não se deve tão somente à crise do socialismo ocidental simbolizada na queda do Muro de Berlim. As esquerdas padecem de uma visão de futuro contra as mazelas aplicadas pelos programas dos partidos neoliberais e serviçais dos interesses do grande capital. O capitalismo transforma e se adapta suas praticas de atuação conforme suas necessidades em nome da usurpação da mais-valia. A alternativa socialista não poderá ser um monólito pálido carente de visão de futuro. Para um novo PT, não há um outro caminho senão a sua refundação. Reinventar a esquerda é um projeto alternativo de estrutura de poder. Reinventar o futuro não é apenas uma tarefa de burocratizar o aparelho partidário e fazer belas cartilhas programáticas que na prática nunca sairão nenhuma proposta factível do papel. Cabe ao PT reinventar a si mesmo, sair da letargia e do marasmo vampiresco por cargos e comissões, desalojar a corrupção crescente dentro dos seus quadros, reconstruir seu papel social e sua ideologia, transformar a política e o próprios ideais da esquerda e se afirmar como uma opção socialista para a sociedade brasileira. O PT precisa retornar às suas origens e observar que são os trabalhadores a sua base primária de sustentação e luta contra a opressão do capital que resulta em perversas desigualdades.
O século XXI não é apenas um paradigma a ser desembrulhado da caixa de Pandora, porém o desafio maior é acreditar na possibilidade de transformar injustiças e mazelas socioeconômicas em uma nova dinâmica onde a sociedade diminua sensivelmente suas disparidades tão grotescas. Ao contrário do que muitos acreditam, não será maquilando números de índices sociais e econômicos que chegaremos a um patamar civilizatório. O futuro sempre é impiedoso contra as senilidades do presente e cabe ao partido deixar claro que a bússola deverá apontar para um ideal socialista. A refundação do PT não é um mero casuísmo, mas a urgente missão de se renovar para avançar dentro das lutas e artimanhas de um mundo onde o fascismo do capital impera subornando bolsos, corações e mentes. O PT não poderá ceder as ilusões eleitoreiras e sucumbir as velhas charlatanices do poder de aluguel. Para o PT, é refundar ou perecer!